Só um continho...

By Kah

Lembro-me de quando era pequena, ia visitar minha tia em outra cidade, era um dos passeios de que eu mais gostava. Sempre passávamos no teatro e eu ficava com medo de personagens, mas mesmo assim adorava aquele lugar. Sempre fazia sol, eu e meus primos sentávamos na beira da calçada pra brincar e fazíamos bolinho de barro que pegávamos das plantas da minha tia.

Acordei, com minha mãe no telefone. Falando de operação as pressas coisas do tipo. Então ela entrou no meu quarto e perguntou se eu ou minha irmã poderíamos ir no hospital entregar uns exames de que minha tia precisava e esquecera na casa dela.

Essa minha tia do interior já havia se mudado pra minha cidade, mas do mesmo jeito que passei quatro anos sem falar com ela, quando ela morava longe, agora não falava com ela por ela ter me ofendido. Não só a mim, mas a minha família. Não nos falávamos. O marido dela era um homem muito rígido e bravo, não deixava meus primos viverem suas vidas como preferissem e porque meus pais me davam total liberdade, compreensão, respeito e amizade, fomos ofendidos por isso.

É engraçado como nos provamos em certos momentos como podemos ser forte e agüentar a barra ou como pensamos que suportaríamos situações e na hora cairmos em prantos de tanto chorar.

Levantei da cama e disse pra minha mãe que iria no hospital ajudar essa tia. Minha mãe mandou que eu fosse me arrumando enquanto ela ia na casa de sua irmã pegar os tais exames. Minha mãe já havia ligado na casa dela antes e feito as pazes, disse o quanto gostava da minha tia e que ela estava perdoada, que não queria brigar com ela nesse momento tão difícil da vida dela. Minha tia ficou muito feliz. Mas mesmo muito feliz, ela estava no hospital, sentindo dores enormes na barriga, dores que a deixavam acabada.

Eu me arrumei, minha mãe chegou e eu fui correndo pro ponto de ônibus. Nem me olhei no espelho. Quando falei com o cobrador não percebi que estava falando tão baixo. Fui o caminho todo pensando o que diria pra minha tia, tanto tempo sem vê-la e se ela ainda nos achasse politicamente errados. E se me achasse? E se me rejeitasse ou algo do tipo? Mas mesmo assim fui. Fui torcendo pra que ela n estivesse mais com tanta dor e que desse tempo da médica ver os exames dela antes que o estado se agravasse, Também não percebi que suava e apertava os exames com a mão.

Quando cheguei no hospital, minha prima estava na porta me esperando, eu a abracei sem hesitar e sem medo de fazer as pazes naquele momento. Com muito cuidado ela me perguntou se queria ver a Tia. Eu disse que estava com medo de vê-la nesse momento, medo de me impressionar, na verdade isso era pura mentira, eu não me impressiono com infermos, eu quero ser médica! Ela disse que ela só estava tomando soro, não estava mais com dor, e eu então aceitei e fui.

Minha tia estava de olhos fechados, quando encostamos no pé da sua cama ela abriu os olhos todo vermelhos, como se de tanta dor, já tivesse chorado, mesmo com os olhos vermelhos ela sorriu pra mim e perguntou se eu estava bem, disse que sim. Ela perguntou porque eu estava tão pálida, se era de medo por ela, também disse que sim, dei a ela um abraço e senti que começaria a chorar se não saísse dali, então ela mandou eu sair e disse que hospital era um lugar ruim, que era melhor eu voltar pra casa. Dei um beijo nela e saí da sala, me despedi da minha prima e fui embora.

Foi estranho como tanta mágoa e incertezas de anos se diluíram em nem dez minutos...alguns só, nem dez. Mas eu sei, que se ela for, nós sabemos que tudo foi perdoado aceito e transformado. Eu sei que talvez ela não se sinta bem de imediato, mas eu sei que isso vai passar, assim como nossas dores do coração.

 

15 comments so far.

  1. Spertnez 7 de julho de 2009 às 21:50
    É uma história forte! Você conseguiu explica-la bem e com detalhes.
    Engraçado neh, como certos momentos unem uma família. São nessas horas que a família se faz presente!

    Saúde para você e sua tia!
  2. Lua- Eu Crio Moda 7 de julho de 2009 às 21:52
    REALMENTE É UMA HISTÓR D VIDA Q VC CONSEGUIU DIGAMOS TIRAR A LIÇÃO DE MORAL NO FINAL
  3. Danny Leal 7 de julho de 2009 às 21:54
    Poxa estou comovida por esta história! Mas é assim que tem que ser e fico muito feliz de se eu estivesse em seu lugar agiria da mesma forma.
    Um conselho... ore por ela, pois nada melhor do que a paz de Deus nessas horas.
    Que Deus te abençoe
  4. Paulo Fraga 7 de julho de 2009 às 22:15
    Muita verdade nessa historia.
  5. Miriã Soares 7 de julho de 2009 às 22:24
    ...vc soube contar a historia de uma maneira brilhante! parabens!
  6. João Viana 7 de julho de 2009 às 23:19
    você já pode escrever um livro...
    eu não conseguiria descrever com tantos detalhes ;)
  7. Jéssica Modinne 8 de julho de 2009 às 00:47
    A história é forte, realmente, só tem uma coisinha que eu não gostei muito: descrição, é... Descrição. Falta uma certa "levesa" na hora dos detalhes p/ q "as cenas" tenham uma concretização melhor da interpretação do leitor, falta uma riqueza maior de detalhes.
    Seria legal se o/a autor(a) deixasse o texto fluir mais com esses detalhes que eu sugeri.

    Parabéns pelo blog. =)
    www.hoppipollablog.blogspot.com
  8. Marton Olympio 8 de julho de 2009 às 01:01
    Belo conto.
    A vida é feita disso, né mesmo?

    ah! e adorei o Twitter na vida real.
    genial!!

    http://martonolympio.blogspot.com/
  9. Anônimo 8 de julho de 2009 às 08:38
    Querida amiga avassaladora...
    Belissima historia impregnada de emoção verdadeira...
    De fato, nesses momentos, magoas de anos evaporam junto com s lagrimas... O que sinto muito respeito é... o tempo perdido de alegria até aquele momento de esquecimento das magoas..já notou que chega um momento em que nem lembramos mais porque brigamos?
    P.s:
    Tambem somos suas fãs! e para selar essa admiração, vamos listar seu blog em nosso blog roll!
  10. Anônimo 8 de julho de 2009 às 13:37
    hahhau quase não comento no seu , postamos os comentarios ao mesmo tempo na comu no orkut mais ta valendo estamos ae para somar
    abrç

    www.celebritypoke.blogspot.com
  11. Dtescom.blogspot.com 8 de julho de 2009 às 13:54
    Muito boa essa historia adorei.
  12. Anônimo 8 de julho de 2009 às 13:59
    Como alguem disse... historia forte!!
    Quem nao tem dinheiro, conta historia neh nao?!
    haeheahu

    t+
  13. Diomar 8 de julho de 2009 às 17:11
    Eu gostei muito do texto, o tema é um pouco triste,mas a vida é assim feita de atitudes,seu blog tah muito bom.parabens
  14. Vini e Carol 8 de julho de 2009 às 17:18
    Legal a história.

    É muito bom as vezes relembrarmos das coisas boas da vida.
    Mesmo não sendo algo tão bom, mas mostra a hora certa da união entre familiares, que mostra ser uma das coisas mais belas da vida.
    E é dos piores momentos que tiramos as coisas boas e aprendemos lições.

    Beijos, Vini.
  15. J.F. Marques 10 de julho de 2009 às 12:57
    Você escreve muito bem, muito bonita a história. Parabéns, continue assim postando e seguindo em frente com o blog.
    Abraço.

Something to say?